Ex-leão assume depressão: «Quando cheguei ao Sporting já era um jogador de m****»
Numa longa entrevista à Gazzetta dello Sport, Cristiano Piccini falou sobre os problemas de saúde mental que teve ao longo da carreira e da relação que sempre teve com as redes sociais.
Antigo jogador do Sporting, Cristiano Piccini abriu o livro e falou dos problemas de saúde mental que atravessou ao longo da carreira, cujo ponto final foi no passado mês de setembro. Em entrevista à Gazzetta dello Sport, o antigo lateral-direito revelou que os problemas começaram no Betis, em 2014/15, na primeira experiência fora de Itália.
«Era um criança, uma bebida aqui, um cigarro ali... tudo isso foi parar ao Twitter e fui massacrado porque não era visto como profissional, e com razão. Fisicamente eu era um prodígio, não precisava de comer nem de treinar bem. Nem dormia e treinava duas vezes mais do que os outros, até que chegou o momento de pagar o preço», contou.
«Tive problemas com os adeptos: rompi os ligamentos do joelho quando era um dos melhores laterais da LaLiga. Voltei passado seis meses e era arrasado a cada erro. Os adeptos escreviam coisas horríveis sobre mim no Instagram e no Twitter. Eu lia e sentia-me mal... Com o Leganés, marquei o 2-1 e gritei 'Calem a boca, seus filhos da p***'. Leram os meus lábios e acabou aí», prosseguiu.
O antigo internacional italiano afastou-se das redes sociais precisamente quando chegou ao Sporting, em 2017: «Sofri muito, mesmo muito. Bastava entrar no Twitter e tinha o dia estragado. Durante muito tempo, não consegui lidar com isso. Depois, quando assinei pelo Sporting, ainda não tinha chegado a Lisboa e já era um jogador de m****. Nessa altura disse chega: ia jogar a UEFA Champions League e não podia começar com este veneno na cabeça. Desliguei tudo e fiz uma grande temporada, o Valência comprou-me a seguir.»
No Valência, Piccini sofreu uma grave lesão que o afastou dos relvados e o deixou com uma depressão. «Depressão, erros, dor, desespero. Foi muito difícil. Passei tantos meses sem ser eu mesmo. Super agressivo, irritado com o mundo, ninguém me suportava. Andava triste e deprimido, não tenho vergonha de o dizer», admitiu.
Perdeu espaço no Valência e foi depois emprestado à Atalanta e posteriormente vendido ao Estrela Vermelha. Dois erros, reconhece agora. «Estás nas nuvens e, de repente, encontras-te no ponto zero, lançado para uma realidade que nunca foi a tua. Muitas situações podem desencadear isto: problemas pessoais, perda de um familiar, desgosto amoroso. No meu caso, foi uma lesão.»
«Sinceramente, nem sabia para onde ir. Enfrentei tudo sozinho e houve muitas noites em que esperei que a minha esposa fosse dormir para que ela não me visse a chorar inconsolavelmente. Perdi toda a motivação. A única coisa que queria fazer era jogar PlayStation. E quando percebi que estava a perder a minha família, soube que precisava de fazer alguma coisa, recuperar a minha vida», contou.
No Sporting, Piccini começou a fazer ioga, algo que o foi ajudando ao longo da vida. Agora, defende que os clubes devem providenciar ajuda psicológica aos jogadores: «Esqueçam o dinheiro e os carros. Quando se deixa alguém sozinho com dor, ele fica mal. O clube, assim como faz com o fisioterapeuta quando há uma lesão, deveria ter alguém que ajudasse a lidar com este processo. Não somos um contrato que pesa quando nos lesionamos, somos um trunfo para o clube», rematou.
Piccini fez duas assistências em 40 jogos pelo Sporting na temporada de 2017/18.